quinta-feira, 24 de dezembro de 2009



O belo busto de Nefertiti ainda hoje acende quentes discussões. Exposto no Museu Egípcio de Berlim é ainda, com mais de três mil anos, o centro das atenções, atraindo meio milhão de curiosos por ano. no entanto, o busto de Nefertiti tem sido nos últimos anos reclamada de volta para o país de origem. Incessantemente o povo egípcio luta para reaver o que seria seu por direito. assim, argumentam que foram enganados pela Alemanha aquando a sua descoberta, em 1923, em Amarna.
O egiptólogo e director do Museu Egípcio do Cairo, Zahi Hawass, graças a uma notícia, publicada numa  revista alemã Der Spiegel - escrito pelo secretário do Instituto Oriental Alemão , que dá conta de um documento de 1924 no qual se confessava ter havido fraude na partilha dos achados em Amarna. Financiadas pelo filantropo de Berlim chamado James Simon, a escavações eram lideradas por Ludwig Borchardt, membro da prestigiada escola de arqueologia alemã. O acordo com as autoridades egípcias previa uma divisão a meias das preciosidades encontradas. No entanto os alemães, que desde o início se sentiram seduzidos pelo busto de Nefertiti (que significa: "uma bela mulher chegou"), fizeram tudo para desvalorizar o achado, afirmando ser feito de gesso e não de calcário, mostrando uma fotografia de péssima qualidade, podendo nem sequer ter chegado a passar pelas mãos do inpector de antiguidades egípcias, o francês Gustave Lefèbvre.
Quando os egípcios pediram uma cópia do documento para provar a "batota" a Alemanha evitou o pedido desculpando-se por ainda não ter conquistado total independência sendo disputado pelas i nfluencias contraditórias da Turquia otomana, Grã-Bretanha e da França.
No entanto, ainda hoje existe a luta entra Egipto e Alemanha por conquistar o direito de ficar com o busto de Nefertiti.

Dando uma opinião pessoal, quando visitei o Museu do Cairo confesso que fiquei desiludida, não por não ser recheado por tesouros incríveis do que foi uma das mais belas e maravilhosas civilizações da humanidade, mas sim por esses mesmo tesouros estarem sujeitos a más condições de conservação. As peças estão praticamente "amontoadas" e demasiado expostas, ou seja, não estão suficientemente protegidas: havia peças (obviamente de grande porte) nas quais qualquer pessoa pode tocar (e em alguns casos vi palavras gravadas e riscadas por prováveis visitantes). Por outro lado o museu é muitas vezes denominado por "armazém" exactamente por ser bastante confuso, demasiado estreito com um aspecto desorganizado.
Este ponto, não é certamente um factor a favor na causa do busto de Nefertiti. Naturalmente faz todo o sentido que o busto regresse ao país de origem... no entanto será bom que ele fique sujeito a estas condições?
Na minha viagem ao Egipto, falaram-me acerca de um projecto de um novo museu que iria substituir o célebre Museu Egípcio do Cairo. No entanto questiono a veracidade da informação pois a fonte pode não ser fiável.
Assim, perante esta incerteza será mais seguro ignorar aqui esta informação, assumindo que o destino do busto será unicamente o museu do Cairo.Será, então, "seguro" o busto da bela Nefertiti regressar ao país de origem podendo estar sujeito a condições menos próprias ou manter-se no Museu Egípcio de Berlim, na capital da Alemanha, onde as condições são certamente mais apropriadas à boa conservação da peça?

Fica aqui aberto o espaço para debate/opiniões/sugestões natalícias :)

                                  Feliz Natal para todos os Arqueólogos, interessados no assunto e demais pessoas xD

7 comentários:

  1. Olá. =)

    De facto, a questão é uma controvérsia... Há dois pontos fundamentais a ter em conta: o primeiro prende-se com as condições de musealização das peças, outra é, sem dúvida, o eterno debate sobre a propriedade. No fundo, tudo são eternos debates que a meu ver, pretendem deixar tudo como está, a curto e a médio prazo.
    O caso de Nefertiti nos últimos tempos tem sido o motivo chave, bem como a pedra da Roseta que está exposta no Britânico. Esta foi ao país de origem, mas só de visita. É preciso entender que estas "altas" peças são, para o senso comum, um motivo muito forte de atracção. Eu própria tive oportunidade de presenciar a loucura das pessoas envolta da pedra da Roseta... No fundo, esta acaba por estar para o Britânico, como a Monalisa para o Louvre. Isto passa-se exactamente com o caso da Nefertiti. Ora, tudo isto significa rendimento (monetário ou não). Por outro lado, é o possibilitar um contacto mundial não restrito apenas ao Egipto. De qualquer maneira,é certo que estas peças de 'topo' nunca ficariam entregues ao caos do Museu do Cairo... O Dr. Zahi Hawass não seria tão tolo quanto isso, até porque a comunidade científica caía-lhe em cima, sem margem para dúvidas. Estou convencida de que essa não seria a questão.
    Na minha opinião, o grande debate está na abertura do Egipto ao mundo. Podemos considerar que o Egipto é património de si mesmo ou, por outro lado, património de todos nós? O caso não é tão simples quanto isso... Um D. Afonso Henriques não levanta, certamente, questões de 'propriedade'... Como diria Christian Jacq: "O Egipto está-nos inscrito na nossa memória profunda".
    Enfim, a minha opinião é a seguinte: Se algum de nós tivesse vivido num país como o Egipto, certamente que não gostaria que as suas relíquias andassem a vaguear mundo fora, penso eu, até porque os egípcios eram extremamente agarrados à sua terra. Devemos dar ao Egipto o que é do Egipto. Não quero com isto dizer que os museus devessem ficar vazios nesta área. O que me parece é que estes grandes não querem prescindir do que é rentável, uma vez que há muitas peças que ninguém fez questão de reclamar. Há tanto para conservar, e disso os grandes pouco se interessam.
    Enfim, uma questão que dá panos para mangas.

    Excelente post Rita :)

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  2. Obrigada Daniela... e tu respondeste exactamente ao que eu pretendia com este post. ;)
    Naturalmente, este é um ponto muito controverso... principalmente no que respeita à propriedade. Apesar de concordar com o que tu disseste relativamente ao tal desejo de propriedade de determinadas peças - neste caso o busto de Nefertiti e a pedra Rosetta - acho que este ponto gira muito mais à volta de outros interesses do propriamente do direito a afirmar que "esta peça é nossa". Tal como salientaste, os interesses monetários hoje em dia são o ponto número um em muitos assuntos. Como já ouvi dizer muitas vezes "o dinheiro faz girar o mundo"... no caso destas peças, não só atraem dinheiro, como turismo, nome, prestígio, etc... No fundo fazem reunir todo um conjunto de factores que motivam a que esta controvérsia se mantenha. Acho, muito sinceramente, que estas peças pertencem ao Egipto e a mais nenhum local pois foram lá encontradas, foram lá feitas, são reflexo da história do país, etc... No entanto, confesso que é confortável saber que peças tão importantes como o busto de Nefertiti e a pedra Rosetta se encontram mesmo aqui ao lado. Actualmente estas relíquias são tratadas com os cuidados exigidos e merecidos. No entanto sabemos que nas várias expedições ao Egipto, que atingiram o seu auge no século XIX, muitos bens foram destruídos e tratados de forma que hoje seria inimaginável. Exemplo disso são várias múmias que foram utilizadas para combustível de comboios e para papel de embrulho de carnes nos talhos - o que, logicamente, causou graves problemas na saúde pública.
    Por outro lado, o facto que tu referiste de este "conflito" estar também associado à abertura do Egipto ao mundo não será, certamente o ponto-chave. Acho, sinceramente que, apesar de o país estar relativamente aberto ao mundo, esse é já um problema de nível social: os costumes, a religião, a tradição, a história em muito diferem com o nosso mundo Ocidental e acho que é essa questão que pode ou não condicionar a abertura do país ao mundo e não as peças, pois se dependesse dos bens materiais, arqueológicos, históricos e culturai s - entre outros - acho que, nesse aspecto, o Egipto tem uma riqueza incrível.
    Assim volto a salientar a questão dos interesses: como tu disseste, e muito bem, "O que me parece é que estes grandes não querem prescindir do que é rentável, uma vez que há muitas peças que ninguém fez questão de reclamar"
    Sim, este será um debate eterno que não sei se algum dia se irá solucionar...só espero que não evolua para um conflito ético entre o Egipto e estes outros países que ainda hoje usufruem dos benefícios destas peças...
    :)

    Rita Pedro

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  3. Olá novamente :)
    Sim, é verdade, tocaste em aspectos fundamentais como o tratamento que fizeram das múmias.
    Mas, quando me referi a propriedade, quis com isso significar ´posse legal e não posse
    por direito e interesse nacional. Sabemos que as peças no Ocidente estão tratadas com o mais avançado cuidado e pormenor, mas
    isto joga com questões de arrecadação nacionalista. Isto é, as técnicas também estão
    no Egipto.. elas estão onde as pessoas as levam. Temos excelentes egiptólogos na Europa
    e no Egipto igualmente. Se há a mesma disponibilidade tecnológica?, talvez não, mas esse é o grande problema.
    Penso que não me fiz entender quando falei na abertura do Egipto ao Mundo... Com essa expressão
    quis referir-me a possibilidades, ou seja, nem toda a gente teve ou tem a oportunidade
    de ir ao Egipto, pelo que, ter peças nos nossos museus, aqui ao virar da esquina, é
    sempre muito bom, e não confina esta ciência apenas ao seu país. No entanto, os países que
    arrecadaram as suas relíquias a partir do século XVIII através de imensos roubos, fizeram com muitas delas o que no seu tempo se pensava ser o correcto. As perdas foram imensas e irrecuperáveis.
    Concordo plenamente com o facto delas pertencerem a um lugar, ao seu lugar.
    Infelizmente, as peças estão espalhadas pelo mundo, com uma História, mas fora da sua História, do seu único e possível contexto - a eternidade do Vale do Nilo.

    :)

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  4. hello again xD
    Eu percebi o que tu querias dizer com propriedade....mas, neste caso é complicado definir a posse legal. Este assunto joga muito com valores nacionais já passados o que o torna ainda mais complexo.
    Não discordo, de modo algum, o facto de existirem excelentes egiptólogos no chamado "mundo ocidental", no Egipto e do resto do mundo. No entanto muitos países não têm o acesso às tecnologias exigidas no tratamento destas peças... Talvez o Egipto tenha acesso a essas tecnologias, talvez não. Este cuidado pelas peças também passa muito pela mentalidade da população, ou apenas da comunidade cientifica, ou seja, a importância dada ao passado é essencial para alimentar o sentimento de necessidade de cuidar estas relíquias. Por outro lado, o Egipto está muitíssimo dependente do turismo - que existe graças ao seu passado. No entanto acho que está bem presente a realidade Egípcia em todo mundo: é necessário haver fundos para investir nestes assuntos, e não podemos considerar o Egipto um país rico, nem de perto nem de longe. Seria igualmente necessário que a população tivesse acesso ao ensino e à cultura como temos no "mundo ocidental".
    Peço desculpa se não te interpretei correctamente quando falaste em abertura do Egipto ao mundo.
    Devo concordar que, numa perspectiva de posses/disponibilidade (monetária), não é fácil visitar o país em questão. No entanto, enquadrando-o num panorama geral, a dificuldade/facilidade em visita-lo está equilibrada com os outros países que não pertencem à União Europeia ou mesmo ao continente europeu. E visto que muitas das relíquias que não estão no Egipto - país de origem - se encontram no nosso continente, mais propriamente dentro dos contornos da União Europeia, volto a sublinhar que é confortável que estas permaneçam onde estão actualmente e que não regressem ao país de origem.
    Apesar de achar que cada coisa deve estar no seu lugar, ou seja as peças devem estar onde merecem, o facto de elas estarem "espalhadas pelo mundo" não é um ponto negativo em todos os sentidos. Este ponto poderá contribuir para aproximação das culturas, o que na minha opinião, desde que seja de forma "controlada", é um aspecto positivo.
    Como tu disseste desde o inicio este vai ser sempre um debate/discussão eterno :) felizmente não deixa de ser interessante e produtivo por isso :)

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  5. Na minha modesta opinião, o património não é das nações mas sim de quem o procurou, conservou e o "vivificou". Quanto ao senhor Hawass, algo me faz desconfiar de alguém que dá seu site o nome de DRHawass...

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  6. Apesar de eu admirar trabalhos de Zahi Hawass, concordo que deixa coisas a desejar...
    Relativamente ao facto de o património ser ou não de nações ou ser ou não de quem «o procurou, conservou e "vivificou"» acho que continua a ser relativo. Não concordo completamente nem discordo completamente dessa opinião! Como disse anteriormente, acho que essa é uma questão controversa que vai sempre deixar pontos de interrogação pendentes...

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  7. Controversa, Rita? Será que o actual Egito muçulmano, pobre e radical tem algo a ver com o antigo Egipto de panteão heterogéneo, rico e prolixo? Ou vamos voltar outra vez à velha questão de oLIVENÇA?

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