sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

HYPATHIA


José Saramago considerou este filme de Alejandro Amenábar, realizador de "Mar Adentro", uma obra-prima. O filme, diz o chileno que o realiza, é também "uma lição de astronomia". Acrescente-se mais outra lição: de história. Porque Hypathia, interpretada por Rachel Weisz, foi uma das grandes mulheres da História. Para a conhecermos melhor temos de recuar à Alexandria do século V d.C. . A sua sorte foi traçada pelo patriarca Cirilo, num momento em que o cristianismo ligou o rolo compressor e levou tudo a eito. O filme foi rodado, tal como "Tróia" e "Gladiador", na ilha de Malta. A equipa que produziu o filme inspirou-se bastante no sítio egípcio de El Fayum, fonte documental para a reprodução das caras e rostos dos personagens e figurantes. Amenábar chegou a ponderar usar imagens filmadas em El Fayum onde se via a famosa cruz suástica mas acabou por não as introduzir no filme "para evitar confusões". Palavras do realizador sobre a reconstituição histórica: "Sabíamos que em Alexandria havia latrinas e isso foi algo que me chamou a atenção pois nunca se mostra neste tipo de filmes como esta gente mijava e cagava e por isso vamos mostrar as retretes". Quem foi Hypathia? Personagem polifacetada - filósofa, matemática e astrónoma... -, tinha excelentes relações com o imperador Orestes e com a elite pagã. Cirilo temia que a sua "magia" influenciasse demasiado Orestes e mandou assassiná-la usando um ritual que os romanos aplicaram aos primeiros cristãos: Hypathia foi lapidada com pedaços de cerâmica, depois de ter sido desnudada. O filme teve um orçamento de 50 milhões de euros e teve em Elsa Garrido a sua assessora histórica..
A crítica de Joel Neto no facebook:

"Acabei de ver 'Ágora' – e, apesar dos habituais tiques de câmara de Amenábar, gostei. Pretendendo ser sobretudo um panfleto anti-cristão, denunciando o Cristianismo em tudo o que ele representou de entropia ao desenvolvimento da ciência e do conhecimento, é também, e talvez um tanto paradoxalmente, uma... interessante demonstração, mesmo que involuntária, da importância que esse mesmo Cristianismo teve para o nascimento dos conceitos de igualdade e 'demo-cracia' (ainda que ali na sua forma mais primitiva e animal). O facto é: conhecimento e democracia raras vezes andaram de mãos dadas ao longo da História – e o mais provável é que seja esse o contra-senso fundamental desta espécie."

2 comentários:

  1. Vi o filme, conhecia a história, e o filme é relativamente fiel. Quanto à mensagem, não o vejo bem como um filme contra o cristianismo. Vejo, isso sim, uma mensagem contra a intolerancia, ideias dogmáticas e acções baseadas nessas ideias. Com a destruição da biblioteca de Alexandria, anos mais tarde (por Árabes ?? olha quem!) , apagou-se o ultimo farol do pensamento clássico, e ficaram 1000 anos de escuridão, onde pensar era proibído e a fé comandava. Palhaços que somos, não aprendemos nada, e 15 séculos depois, continua a morrer gente pela intolerancia religiosa.

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  2. O cristianismo nada tem de mau. Cada um com seus limites... e tais limites fazem das manifestações cristãs o que há de menos cristão. Toda religião "revelada" é atraso. O cristianismo é apenas aquela que obteve maior "sucesso"... com um público desqualificado e, não raras vezes, "comprado".

    Enfim...

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