quarta-feira, 18 de novembro de 2009

O CÉU PODE ESPERAR

Foto Pedro Correia
No dia em que os homens arrastaram e ergueram estes monólitos, a cidade que neles hoje espreita (Évora) era apenas planície. Da Serra de Monfurado, para nascente, avistam-se as terras que confinam com o Guadiana. Évora-Montemor e Reguengos-Monsaraz são, também com Pavia, as zonas portuguesas de maior concentração menírica. Dos cerca de 150 monólitos que formavam o cromeleque de Almendres - o maior da Península Ibérica - restam 95 mas a monumentalidade continua lá. É algo que nos esmaga e atira para uma dimensão sem tempo, apenas perturbada pela chegada de um ou outro visitante. Nunca lá tinha estado e quem foi comigo fotografar "os calhaus" também não. Aliás, o Pedro nem tinha ouvido falar do cromeleque e até já tinha estado ali bem perto a passar férias. Foi surpreendido por aquilo a que chamou, de imediato, "uma igreja a céu aberto". Seja. Pouco importa. Igreja, calendário astronómico, centro ritual... Li algures que os homens do Neolítico erguiam as pedras com o objectivo de se aproximarem do arco celestial e que é por isso mesmo que surgem mais gravuras no terço distal dos menires. Teorias não faltam. Todos sabemos: a interpretação não raras vezes se confunde com especulação e dá sempre jeito para "encher papel". Deixemo-lo de lado. Fiquemo-nos pela contemplação do cenário. Da terra, da pedra e do imenso universo que coroa a pintura digital. E com o silêncio do vento que sopra no topo do montado...
O céu pode sempre esperar.

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