domingo, 10 de janeiro de 2010

LANDSCAPE

Vulcão Licancabur, na fronteira da Bolívia com o Chile, Maio de 2008

Um vulcão beijado por uma nuvem foi premiado pela revista National Geographic como a melhor Fotografia de Lugares de 2009 [entre 200 mil fotos]. Foi tirada por um fotógrafo amador açoriano com gosto pelas viagens, Hugo Bettencourt Machado. "Estava no sítio certo na hora certa", diz.

Não conheceu o avô, fotógrafo de profissão. Nem sequer mergulhou muito na obra que o avô deixou. Mas reconhece que qualquer coisa ficou lá, nos genes. Hugo Bettencourt Machado, geólogo de petróleos e fotógrafo amador que adora viajar, não vai para lado nenhum sem as máquinas. Uma das fotografias de uma viagem ao Chile foi premiada pela revista National Geographic como a melhor Fotografia de Lugares de 2009. É o primeiro português a conseguir este reconhecimento.

Em 1980, no primeiro dia do ano, a Terceira era abalada por um dos mais violentos terramotos sofridos na ilha. Uma magnitude de 7.2 na escala de Richter e o material e arquivo de fotografia do avô Arnaldo Bettencourt, já falecido, havia de ficar quase todo destruído. Mas, apesar do terramoto, esse foi um ano muito especial para a família Bettencourt Machado. Nasceu Hugo, a 2 de Novembro.

O rapaz nunca ligou muito à fotografia. "O que sei do meu avô fotógrafo são histórias que a minha mãe me contou. Nunca o conheci. Mas sei que fotografou a erupção dos Capelinhos e que tinha fotografias do tempo da II Guerra Mundial nas Lajes."

Algum do material do avô ainda permanece na casa de família, em Angra do Heroísmo. "Mas está para lá do irrecuperável." O interesse pela fotografia só chegou já na faculdade, enquanto estudava Geologia na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Começou a fotografar por influência de dois amigos "maluquinhos da fotografia". Comprou a primeira máquina. Depois veio outra. E outra. Mas sem nunca pensar muito no avô Arnaldo.

Acabado o curso, confessa que pensou ser vulcanólogo, "como um bom açoriano". A ideia ainda o levou um ano e meio à Nova Zelândia, onde tentou lançar-se num doutoramento na área. Mas do ano na Nova Zelândia o melhor que trouxe foi o registo fotográfico de um sítio "fascinante". Depressa percebeu que a vulcanologia não era o seu caminho e que tinha de definir nova estratégia. Sempre com as máquinas às costas, rumou então para um mestrado sobre Geologia do Petróleo no Imperial College, em Londres. A coisa correu bem.

Depois de uma passagem por plataformas petrolíferas em Angola e no Norte da Áustria e de várias entrevistas de emprego, acabou por traçar a Noruega como futuro destino. "Sou uma das poucas pessoas felizes com o aumento do preço do petróleo. Quando o preço sobe, há sempre mais emprego na área. Quando o barril de crude subiu acima dos cem dólares, havia emprego para toda a gente."

Profissão à parte, é da fotografia e das viagens que gosta. "Até aos 17 anos, não viajei muito. Sentia-me fechado na Terceira. Talvez essa sensação de estar fechado numa ilha me tenha despertado a vontade de conhecer." E, para onde quer que vá, leva sempre as várias máquinas, o tripé, as lentes - não se separa de nenhuma. "É sempre uma mochila grande só para o vício. O pior é o tripé. Não pode ser muito pequeno. Tem de aguentar com a lente 70-200. E se de repente perco uma imagem porque decidi não andar com o material?" Isso apavora-o.

in revista PÚBLICA


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http://olhares.aeiou.pt/yazalde

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