sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

FANTASIAS E MANIAS


Assisti hoje às duas sessões da workshop "Fantasias imperiais e crises coloniais" e não dei o tempo por perdido. Pelo contrário. O tema é de grande amplitude e o debate aconteceu. Não ficou claro se os portugueses são de facto colonizadores especiais e autores do "lusotropicalismo" ou se este é uma criação épica da nossa historiografia, tão atreita a esse tipo de tiques. Amélia Pólónia, falando dos séculos XV e XVI, confessou desde logo problemas documentais para se aventurar em conclusões quanto ao tema da sua comunicação, sendo conhecido que nesse período funcionou mais a expansão que a diáspora. Filipe Ribeiro da Silva desmontou a ideia de que portugueses e holandeses tiveram processos distintos quando soltaram as amarras da Europa e de que foram rivais terríveis, acentuando a colaboração entre as duas pequenas potências sobretudo ao nível da iniciativa privada. Manuel Loff, no seu estilo tipo "tiro de rajada", lançou um olhar sobre um período curto da história contemporânea (1930-45) e sublinhou o facto de ter encontrado aí fortes elementos de retórica política e de propaganda no sentido de "vender" o português como uma raça superior. Uma campanha que parece ter ficado por aí. Depois de Maciel Santos ter falado sobretudo de certos padrões (sobretudo económivos) e políticas desenvolvidos no Estado Colonial de Angola, Cláudia Castelo falou-nos de lusotropicalismo, de Gilberto Freyre e Salazarismo. Para pôr em questão a forma eventualmente benigna como os portugueses foram colonos, incidindo na análise do período que se seguiu à eclosão da guerra do Ultramar até ao 25 de Abril de 1974. A verdade é que a prova testemunhal que tem recolhido aponta exactamente para a brandura dos costumes imposta pelos portugueses nas colónias, teoria que, deu logo para perceber, não agradou muito à dr. Polónia. Que a propósito de nada e de coisa nenhuma trouxe à colação o recente livro "O Património Genético Português", sublinhando o facto de ser da autoria de uma jornalista (os pobres jornalistas estão a descer cada vez mais baixo na bitola dos doutores...) e de uma especialista em genética que não citou fontes bibliográficas, classificando o livro como "perigoso" depois de dizer que "pode ser encontrado num escaparate da FNAC", como se tal fosse desde logo um defeito para qualquer livro, pois parece que os bons livros não podem vender muito e não podem estar à venda em sítios onde se vendem também computadores, 'gadegts' e o Pro Evolution Soccer. Mas enfim. Temos de estar preparados sempre para esta espécie de iconoclastismo académico. Na parte que me toca, gostei bastante do livro (parece que o prof. José d'Encarnação também), não o achei nada épico ou especulativo mas, pronto, se a dr. Polónia se irritou tanto com ele admito que terei pelo menos de fazer uma segunda leitura. Voltando à workshop, só mais um comentário: continuo a não ver ninguém da arqueologia a ousar espreitar o que se passa no terreno do vizinho do lado, a História. Mas desta vez há a desculpa dos exames...

1 comentário:

  1. Luísa Pereira, uma das autoras do livro30 de janeiro de 2010 às 16:08

    É lamentável a Professora Amélia Pólónio não ter lido o livro "O Património Genético Português" com a devida atenção. O livro tem uma bibliografia comentada e extensa. "Perigoso" é dar opiniões infundadas.

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