quinta-feira, 6 de maio de 2010

AVIEIROS - PATRIMÓNIO NACIONAL


A cultura e a identidade dos pescadores avieiros, oriundos de Vieira de Leiria, concelho da Marinha Grande, e da Ria de Aveiro, vai ser elevada a património nacional, num projecto de recuperação de várias aldeias avieiras que prevê a criação de mais de 450 postos de trabalho.
O coordenador do projecto de candidatura a património nacional, João Serrano, explicou à agência Lusa que o objectivo é "criar um novo destino turístico para o País", num conjunto de programas que estimam criar 127 postos de trabalho directos e de 350 a 360 indirectos.
"Este destino turístico já está aprovado pelo PROVERE [Programas de Valorização Económica de Recursos Endógenos]. É um projecto de investimento que envolve 41 instituições e 59 projectos de investimento e prevê ligar pelo Tejo desde a Marina do Parque das Nações até Constância, sendo que o Tejo só é navegável até Valada", adiantou João Serrano.
O coordenador do projecto - avaliado em cerca de 30 milhões de euros - explicou ainda que a candidatura prevê "um turismo fluvial que parte do Parque das Nações até Valada por barco" e, a partir daí, vai ser desenvolvido um "percurso por um barco muito leve para fundos baixos ou por autocarros para levar os turistas até Constância".
"A oferta é enorme: prevêem-se vários investimentos na área da hotelaria, na restauração, no turismo fluvial e equestre e consideramos que é a partir do Tejo que se deve criar um destino turístico que valorize a região", acrescentou, lamentando que o Ribatejo "esteja hoje despovoado" porque "as pessoas não encontram aqui empregos".
Os avieiros, "os mais pobres dos pobres", nas palavras de Alfredo Pinheiro Marques, dircetor do Centro de Estudos do Mar (CEMAR), uma associação científica do Centro Litoral que estuda a cultura avieira, foram o último grande movimento migratório português.
Donos do "mais belo barco do mundo, em forma de meia lua”, numa referência à arte xávega, “os mais pobres dos pobres, a cada inverno e com a fome, começaram uma migração sazonal para o Tejo", explicou o investigador, acrescentando que estes pescadores são oriundos da Vieira de Leiria e "da mãe de todos os pescadores que é a Ria de Aveiro".
No início do século XX e até aos anos 60, famílias inteiras de pescadores subiram as margens do rio Tejo, na tentativa de encontrar melhores condições de pesca e mais oportunidades, mas mantendo sempre a sua identidade.
O projecto de elevar a cultura avieira a património nacional nasceu há cerca de quatro anos, tendo sido aprovado em Julho de 2009, numa iniciativa do Instituto Politécnico de Santarém (IPS), através do Gabinete da Cultura Avieira. A partir de amanhã e até domingo, Santarém e Salvaterra de Magos acolhem a primeira edição do Congresso Nacional da Cultura Avieira.
Os pescadores avieiros inventaram uma forma única de falar para interpretar o rio Tejo. Cada família tinha também "o seu dialeto próprio" para ocultar os segredos para trazer mais peixes nas redes. Ainda hoje, há mistérios que os pescadores não gostam de revelar mas Luís Cosme, avieiro de 50 anos, divulgou um deles: “Se o pescador dizia ‘nincalé’ era sinal de que, naquele dia, o Tejo não deu peixes”.
O avieiro explica que "quase que se criava um dialecto natural entre o homem e a mulher que depois ia prevalecendo ao longo da vida da pesca" dentro da família para "não dar a perceber ao colega do lado que estava noutro barco a pescar a forma como ele apanhava mais peixe do que o outro".
Oriundos da Vieira de Leiria e das praias da Gândara, na Bairrada, os pescadores avieiros viram-se obrigados a subir o Tejo para dar sustento à família. Com o tempo e à medida que se iam integrando nas comunidades locais, os avieiros deixaram de viver nos barcos para construir casas em estacas de madeira nas margens.
in DIÁRIO DE AVEIRO

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